Tarifaço dos EUA trava exportação de 152 toneladas de mel e gera prejuízo de R$ 2,5 milhões em 15 dias
25/07/2025
(Foto: Reprodução) Produtores deixam de vender 152 toneladas de mel em 15 dias para EUA
Nos últimos 15 dias, 152 toneladas de mel orgânico produzidas no Piauí deixaram de ser exportadas para os Estados Unidos. O cancelamento das vendas ocorreu após o presidente americano, Donald Trump, anunciar uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros. A medida já causou um prejuízo de R$ 2,5 milhões aos produtores.
O mel está armazenado no depósito da Central de Cooperativas Apícolas do Semiárido Brasileiro (Casa Apis), localizada em Picos, cidade a 314 km de Teresina.
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Segundo Sitônio Dantas, presidente da Casa Apis, o prejuízo deve ser ainda maior. Embora a medida só entre em vigor em 1º de agosto, as negociações já estão sendo afetadas, já que os produtos embarcados agora só chegarão aos Estados Unidos após a implementação da nova tarifa.
A empresa costumava enviar quatro contêineres por semana, com valor estimado em R$ 1,3 milhão. Com a nova tarifa de 50%, os produtores calculam que o custo pode subir para cerca de R$ 1,9 milhão.
As toneladas de mel deveriam percorrer cerca de 550 km por transporte terrestre até o Porto do Pecém, no município de São Gonçalo do Amarante , no Ceará. O transporte de um contêiner tem o custo de mais de R$ 4 mil, o não envio do produto já representa um prejuízo de mais de R$ 48 mil para transportadoras.
O ultimo envio feito pela Casa Apis aconteceu no dia 13 de julho, após o grupo conseguir manter a exportação de 95 toneladas de mel orgânico que estavam retidos no porto após suspensão da negociação por parte dos compradores americanos.
"Nós temos um capital reserva, então não deixamos de comprar mel dos pequenos produtores, mas não sabemos até quando vamos conseguir manter as compras. Normalmente enviamos o mel e com 10 dias recebemos o pagamento, o que agora não vai acontecer, porque temos o produto, mas não temos mais o comprador. O dinheiro está parado" afirma Sitônio Dantas.
Após o anuncio da tarifa, o Grupo Sama, também localizado no Piauí, e uma das maiores processadoras e exportadoras de mel orgânico do mundo sofreu com o cancelamento imediato de 585 toneladas do produto.
Atualmente, a Casa Apis processa o mel orgânico produzido no Piauí, no Ceará e Maranhão.
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Com destinos de exportação como Estados Unidos, Canadá, Reino Unido e países da Europa, o mel produzido no semiárido do Piauí é resultado de práticas sustentáveis.
"O mel orgânico é produzido dentro de um sistema de produção orgânica, tem uma regulamentação nacional e uma série de requisitos a serem cumpridos. Se difere da agricultura convencional e de grande escala por não fazer uso de adubos, fertilizantes e inseticidas, e exige, por exemplo, que as abelhas estejam dispostas em um raio mínimo de três quilômetros", explicou Darcet Souza.
"Se eu estou em uma área de produção de eucalipto, utilizada por abelhas como fonte de recursos florais, mas que tem o combate a pragas, essa produção é convencional. No planeta, são poucas as áreas que têm condição de produzir um mel orgânico", completou.
O professor avalia ainda que a demanda por alimentos orgânicos no Brasil tem crescido, impulsionada pela conscientização dos consumidores sobre a importância da saúde e da sustentabilidade.
"A vantagem é que é um alimento especial, o risco à saúde é quase zero, pela ausência de resquícios de agrotóxicos. Vários estudos comprovam a presença de resíduos de pesticidas em alimentos convencionais. E principalmente após a pandemia de Covid-19, a demanda por alimentos orgânicos aumentou", pontuou o pesquisador.
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